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VIAGENS MARAVILHOSAS

Cypriano, que não estava em estado de conversar, apenas pôde dar ao amigo indicações muito breves a seu respeito. Alem d'isso Pharamundo Barthés comprehendeu que o que urgia mais era prestar ao doente os soccorros que até ali lhe tinham faltado, e por isso poz-se a tratar d'elle o melhor que lhe foi possivel.

Aquelle ousado caçador tinha já longa experiencia do deserto e aprendêra com os cafres um methodo de extrema efficacia para o tratamento da febre palustre, de que o seu pobre camarada estava atacado.

Portanto Pharamundo Barthés começou por abrir no chão uma especie de cova mortuaria, que encheu de lenha, deixando ficar uma saída para que o ar exterior se podesse introduzir n'ella. Depois chegou fogo á lenha, e quando ella ardeu e se consumiu completamente, ficou a cova transformada n'um verdadeiro forno. Pharamundo Bathés deitou então o seu amigo dentro da cova, depois de o ter embrulhado com todo o cuidado deixando-lhe só a cabeça ao ar Mal tinham passado dez minutos e já se manifestava transpiração abundante, — transpiração que o doutor improvisado teve o cuidado de activar com cinco ou seis chavenas de uma tizana que fez com certas hervas suas conhecidas. Cypriano não tardeu a cair em benefico somno dentro d'aquella estufa.

Ao pôr do sol o doente, quando abriu os olhos, sentia tão manifestos allivios que pediu de jantar. O seu engenhoso amigo tinha resposta para tudo; serviu-lhe immediatamente um excellente caldo que tinha feito com os mais delicados productos da sua caça e algumas raizes de varias qualidades. Uma aza de batarda fria e uma chavena de agua com cognac completaram aquella refeição, que deu alguma força a Cypriano e acabou de lhe libertar o cerebro das nuvens que o obscureciam.