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VIAGENS MARAVILHOSAS

A jornada foi bastante longa,— duas horas de caminho pelo menos. Pela natureza dos abalos, que o palanquim experimentava, Pharamundo Barthés e Cypriano julgaram perceber bem depressa que íam sendo transportados por uma região montanhosa.

Depois um ar muito fresco e o echo sonoro dos passos da escolta, repercutido por paredes muito juntas uma da outra, indicaram que se tinha penetrado n'um subterraneo. Finalmente os dois começaram a sentir o cheiro de fumo resinoso, e comprehenderam que se tinham accendido archotes para alumiar o cortejo.

Durou a marcha ainda um quarto de hora; em seguida foi o palanquim arriado ao chão. Tonaia fez sair os seus hospedes e ordenou que lhes tirassem as vendas.

Pharamundo Barthés e Cypriano, desorientados pelo deslumbramento que se sente quando se volta subitamente á luz, julgaram-se ao principio victimas de uma como que allucinação extactica, por tal forma era esplendido e inesperado o espectaculo que se lhes offerecia aos olhos surpresos.

Achavam-se no centro de uma immensa gruta, cujo solo era coberto por areia finissima semeada de palhetas de ouro. A aboboda, tão alta como a de uma cathedral gothica, perdia-se em profundidades insondaveis. As paredes d'aquella substrucção natural estavam a tapetadas de stalaclites, de riqueza e variedade de tons nunca vistos, que dos reflexos projectados pelos archotes recebiam fogos do arco iris, misturados com fulgores de brazas ardentes e irradiações de auroras boreaes. Essas inumeraveis cristallysações eram caracterisadas por cores fulgurantissimas, por fórmas extravagantes e pelas mais imprevistas disposições dos seus planos. Não eram, como na maior parte das grutas, simples composições de quartzo pendente, reproduzidas com monotona uniformidade. Aqui a na-