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A ESTRELLA DO SUL

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tureza, dando livre curso á sua fantasia, parecia ter-se comprazido em esgotar todas as combinações das cores e dos effeitos de luz, a que tão maravilhosamente se presta a vitrificação das suas riquezas mineraes.

Rochedos de amethysta, paredes de sardonica, montões de rubis, corucheus de esmeraldas, columnatas de saphiras, atirando-se para os ares como florestas de pinheiros, ice-bergs de aguas-marinhas, lustres de turquezas, espelhos de opalas, affloramentos de gypso côr de rosa e de lapis-luzuli com veios de ouro, — tudo quanto o reino crystallino póde offerecer de mais precioso, raro, limpido e deslumbrante, tudo isso tinha servido de material para aquella surprehendente architectura. Ainda mais, todas as formas, mesmo as do reino vegetal, pareciam ter sido tributadas por aquelle trabalho fóra de toda a concepção humana. Havia ali tapetes de musgos mineraes, tão aveludados como a mais fina relva, arborisações crystallinas carregadas de flores e de fructos de pedraria, que faziam por vezes lembrar aquelles jardins de fadas reproduzidos com tanta singeleza pelos desenhos a cores dos japonezes. Mais longe um tanque artificial, formado por um diamante de vinte metros de comprido, encaixado na areia, parecia um theatro prompto para os folguedos dos patinadores. Palacios aerios de calcedonia, kiosques e torrinhas de beryllo e de topazio, iam-se amontoando de andar em andar até um ponto em que os olhos, fatigados com tanto esplendores, se recusavam a seguil-os mais. Finalmente a decomposição dos raios luminosos atravez d'aquelles milhares de prismas, os fogos das scentelhas que rebentavam de todos os lados e caíam em chuva fulgurante, constituiam a mais admiravel symphonia de luz e de côr com que jámais foi deslumbrada a vista humana.

Cypriano Méré já não duvidava agora. Achava-se transportado a um d'esses reservatorios mysteriosos, cuja existencia