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A ESTRELLA DO SUL

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Cinco ou seis caixotes grandes constituiam o material do joven sabio ; eram um verdadeiro laboratorio de chimica e mineralogia de que elle não quizera separar-se. Mas o carrão só leva cincoenta kilos de bagagem por passageiro, e não houve outro remedio senão confiar os preciosos caixotes a um carro de bois que devia leval-os atė Griqualand com um vagar digno dos merovingios.

O tal carrão ou diligencia, com logares para doze pessoas, tinha uma cobertura de lona, e assentava sobre quatro rodas enormes, constantemente molhadas pela agua dos rios que se passavam a vau. Os cavallos, mettidos dois a dois, e algumas vezes reforçados com mulas, são guiados por dois cocheiros sentados a par, um leva as redeas ao passo que o outro maneja um chicote muito comprido de bambú, que lhe serve tanto para excitar o gado como para o dirigir.

A estrada passa por Beaufort, uma bonita cidadesinha edificada ao pé dos montes Nieuweveld, atravessa esta serra, chega a Victoria, e finalmente conduz a Hope-Town — a cidade da Esperança —, na margem do rio Orange, e d'ahi a Kimberley e aos principaes jazigos diamantiferos, distantes apenas algumas milhas.

É uma viagem trabalhosa e monotona de oito a nove dias atravez do Veld esteril. A paizagem tem quasi sempre um caracter excessivamente triste, —planicies avermelhadas, pedras espalhadas como uma sementeira de cascalho, rochedos pardos aflorando o solo, herva amarella e rara, e moitas famelicas. Nem campos cultivados, nem bellezas naturaes. De longe em longe uma granja miseravel, cujo dono ao obter do governo colonial a concessão das terras contrahiu a obrigação de dar hospitalidade aos viajantes. Mas essa hospitalidade é sempre das mais elementares. Em tão singulares estalagens não se encontram leitos para os homens nem camas de palha para os ca-