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A ESTRELLA DO SUL

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que não havia de limitar-se ás recriminações nem ás ameaças, mas devia chegar até um começo de execução.

Effectivamente Cypriano, ao ir uma noite visitar o forno, achou o sitio d'elle saqueado. Durante uma ausencia de Bardik, tinham alguns homens, aproveitando-se da obscuridade, destruido em poucos minutos a obra de muitos dias. Tinha sido demolida a edificação de tijolo, quebradas as fornalhas, apagados os fogos, partidos e dispersos os utensilios. Nada restava do material que tantos cuidados e trabalhos tinham custado ao joven engenheiro. Era preciso começar tudo de novo, — se elle não era homem que cedesse diante da força, — ou aliás abandonar a partida.

«Não! exclamou elle; não! Não hei de ceder, e amanhã vou queixar-me dos miseraveis que destruiram o que era meu! Veremos se ha justiça no Griqualand !»

Havia justiça, sim, — mas não aquella com que o joven engenheiro contava.

Sem dizer nada a pessoa alguma, sem mesmo contar a miss Watkins o que se tinha passado com receio de lhe causar um novo terror, Cypriano voltou para a sua cabana, e deitou-se muito resolvido a queixar-se no dia seguinte, ainda que tivesse de ir ao governador do Cabo.

Teriam passado duas ou tres horas que tinha adormecido quando acordou sobresaltado ao ruido da porta que se abria.

Cinco homens com mascaras pretas, armados de revolveres e espingardas, penetravam no seu quarto. Traziam aquella especie de lanternas, que em terras inglezas se chamam bull's eyes — olhos de boi, — e vieram collocar-se em silencio á roda do leito.

Cypriano nem sequer por um instante teve a idéa de tomar a serio aquella manifestação mais ou menos tragica. Imaginou que fosse alguma brincadeira, e poz-se ao principio a rir, ape-