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A ESTRELLA DO SUL

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todos aquelles apparelhos exquisitos. Mas principalmente a ingleza tinha muita curiosidade de saber tudo o que tinha relação com a natureza dos diamantes, essa preciosa pedra que tinha um papel tão notavel nas conversações e no commercio do paiz. Na verdade Alice inclinava-se bastante a considerar tal gemma apenas com um bocado de seixo. E não deixava de observar que Cypriano tinha a este respeito desdens parecidos com os seus. Por isso esta communhão de sentimentos não foi estranha á amisade que promptamente se formou entre elles. Podia-se dizer com afouteza que elles eram os unicos no Griqualand que não julgavam que o fim exclusivo da vida fosse procurar, cortar ou vender essas pedrinhas, cubiçadas com tanto ardor em todos os paizes do mundo.

— O diamante, disse-lhe um dia o joven engenheiro, é simplesmente carbonio puro. É um fragmento de carvão crystallisado, nada mais. Póde-se queimar com um vulgar pedaço de brasa, e até foi por causa d'essa propriedade de combustilidade que pela primeira vez se suspeitou a sua verdadeira natureza. Newton, que observava tantas cousas, tinha notado que o diamante lapidado refracta mais a luz que qualquer outro corpo transparente. Ora como elle sabia que este caracter pertence á maior parte das substancias combustiveis, com a ousadia que lhe era habitual tirou d'esse facto a conclusão de que o diamante devia ser combustivel. E a experiencia deu lhe rasão.

— Mas, senhor Méré, se o diamante é apenas carvão, porque se vende tão caro ? perguntou a joven.

— Porque é muito raro, menina Alice, respondeu Cypriano, e só tem sido achado na natureza em pequenas quantidades. Durante muito tempo só se tiravam diamantes da India, do Brazil e da ilha de Borneo. E com certeza se lembra bem, pois havia de ter então sete ou oito annos, da epocha em que