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muito pouca força, mas batia. Bem depressa o china abriu os olhos, e, cousa singular, parecia voltar a si ao mesmo tempo que tornava a ver a luz do dia.
Na physionomia impassivel do pobre diabo, mesmo ao sair d'aquella temivel prova, não havia nem terror nem admiração apreciavel. Dir-se-ia que apenas acabava de despertar de um leve somno.
Cypriano fez-lhe engulir algumas gotas de agua, cortada com vinagre, que trazia no cantil.
— Póde fallar agora? perguntou elle machinalmente sem se lembrar que Li não podia comprehendel-o.
Mas o china fez um gesto affirmativo.
— Quem foi que o enforcou d'essa maneira?
— Fui eu, respondeu o china sem parecer que tivesse feito uma cousa extraordinaria ou reprehensivel,
—Vossê!... Mas então, desgraçado, foi um suicidio premeditado ?... E porquê.
— Li tinha muito calor !... Li andava aborrecido, respondeu o china.
E tornou a fechar os olhos como para se esquivar a mais perguntas.
Cypriano notou n'aquelle momento a circumstancia estranha de que o dialogo se tinha passado em francez.
— Falla tambem inglez? continuou elle.
— Sim, respondeu Li abrindo um pouco as pestanas.
Pareciam duas casas de botões obliquas, abertas de um e de outro lado do narizinho chato.
Cypriano julgou ver n'aquelle olhar alguma ironia que por vezes o surprehendêra durante a viagem do Cabo para Kimberley.
— As suas desculpas são absurdas! disse-lhe elle com severidade. Ninguem se mata porque faz muito calor ! Falle se-