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A ESTRELLA DO SUL

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Immediatamente se offereceram uns trinta pretos, e sem mais perda de tempo pozeram mãos à obra.

Não faltavam picaretas, alviões e pás ; os baldes e os cabos estavam ali promptos, os carrinhos tambem. Um grande numero de mineiros brancos, sabendo que se tratava de desenterrar um pobre diabo soterrado debaixo das terras desmoronadas, offereceram benevolamente o seu auxilio. Thomaz Steel, electrisado pelo enthusiasmo de Cypriano, não era dos que se mostrava menos activo a dirigir aquella operação de salvação.

Ao meio dia já se tinham retirado muitas toneladas de areia e de pedras, amontoadas no fundo do claim.

Ás tres horas Bardikt deu um grito rouco ; acabava de ver debaixo da picareta um pé negro saindo da terra.

Redobraram de esforços e alguns minutos mais tarde, estava desenterrado todo o corpo de Mataki. O desgraçado cafre estava deitado de costas, immovel ao que parecia. Por um singular acaso um dos baldes de sola, que lhe serviam no trabalho, tinha-se-lhe voltado sobre a cara cobrindo-a como uma mascara.

Cypriano notou logo esta circumstancia e pensou que talvez podesse chamar o desgraçado á vida ; mas na realidade a esperança era muito fraca porque o coração já não batia, a pelle estava fria, os membros hirtos, as mãos em crispação, e o rosto — com aquella pallidez livida propria dos pretos — estava horrivelmente contrahido pela asphyxia.

Cypriano não perdeu o animo. Mandou levar Matakit para a cabana de Thomaz Steel, que era a mais proxima. Estenderam-n'o em cima da mesa que servia de ordinario para a escolha das pedras, e submetteram-n'o aquellas fricções systematicas e movimentos da caixa thoracica, destinados a estabelecer uma especie de respiração artificial, que é costume pôr em pratica