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A Guerra de Canudos

a obrigação, não arredava pé e quando vibrava a ultima badalada, travava do féro bacamarte e o descarregava estrondozamente sobre a linha; em seguida, recolhia-se á latada, protejido pelas trévas.

No decorrer da noite, em meio do combate, ouviam-se o latir dos cães no arraial, bem como o chôro das creanças e o ralhar dos paes. Frequentemente, entre 9 e 10 horas, grande alarido nos feria a attenção, vindo dos lados do santuario, atraz da igreja matriarcha. Destacavase a vóz potente de homens, e mulheres respondendo atabalhoadamente. Era o terço, que se prolongava por duas horas. Nada o interrompia, nem a fuzilaria mortifera, nem o troar dos canhões.

Na sua existência de fanaticos, eivada do mysticismo que os transfigurava, os jagunços de Canudos não comprehendiam outro viver, que não a crença absoluta no Bom-Jesus e seus milagres e a defeza inabalavel, com uma tenacidade que os engrandecia, do santuario, d'onde o legendario senhor do Bello-Monte governava com intransigente absolutismo aquella grande massa de allucinados.

Mais tarde, violando a escuridão, destacavam-se innumeros fachos agitados por grande multidão movendo-se lentamente pelo fundo da alterosa igreja, colleando pelas ruellas oc-