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NARIZINHO ARREBITADO
 
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lindo sonho quando sentiu cocegas no rosto. Arregalou os olhos e, com grande assombro, viu de pé na ponta do seu narizinho um peixinho vestido. Vestido sim, pois não! Trazia casaco vermelho, cartola na cabeça e flôr ao peito: — uma galanteza! O animalzinho olhava para o rosto della com ar de quem não está comprehendendo coisa nenhuma.

Tão admirada ficou a menina da maravilhosa scena que reteve o folego, com medo de assustar o curioso, e assim permaneceu algum tempo até que a zoada de um insecto a distrahiu. Era um besourão que voava por cima da sua cabeça e que depois dumas tantas voltas veiu pousar-lhe na testa. Narizinho, arrepiada, ia espantal-o com um bom tabefe, quando notou que tambem elle estava vestido de gente, com sobrecasaca, oculos e bengalão. Conteve-se e ficou bem quietinha a ver em que dava aquillo. O besouro, notando a presença do senhor peixe, levou a mão ao chapéo e cumprimentou-o amavelmente:

— Ora viva, mestre Escamado! Como lhe vae a saúdinha?

— Assim, assim, amigo Cascudo. Lasquei hontem tres escamas do lombo e o medico receitou-me ares de campo. Vim tomar o remedio, mas aqui encontrei este morro que não é meu conhecido, e estou a parafusar que diacho de terra tão branca e lisa é esta. Será porventura marmore? disse, batendo com a biqueira do guarda-chuva no nariz de Narizinho.

O besouro, sujeitão muito entendido em questões de terra, pois vive