Página:A Moreninha.djvu/98

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eterno, mas debalde o fiz, porque eu sou tão sensível ao poder da formosura, que sempre me sucedia esquecer a bela de ontem pela que via hoje, a qual, pela mesma razão, era esquecida depois. Quantas vezes, minhas senhoras, nos meus passeios da tarde, eu olvidei o amor da manhã desse mesmo dia por outro amor, que se extinguiu no baile dessa mesma noite!

— E exageração! disse uma senhora.

— E exatamente assim, acudiu Fabrício.

— Que folha d’alho! ... exclamou d. Quinquina.

— Então, minhas senhoras, prosseguiu Augusto, entendi que deveria recorrer a mim próprio para tornar-me constante. Consegui-o. Sou firme amante de um só objeto que não tem existência real, que não vive.

— Como é isso!... Então a quem ama?

— A sua sombra, como Narciso?...

— A boneca que se vê na vidraça do Desmarais?...

— Ao cupido de Praxíteles, como Aquídias de Rodes?...

— Alguma estátua da Academia das Belas-Artes?...