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Que nunca o seu profundo coração
Sentiu Desejo, Dôr, ou Comoção,
Que envergonhasse aquele espaço imenso.

Olhar d’um deus que acorda
De triste e humano sonho, e que recorda
A sua gloriosa, eterna Vida,
E ao ver sua divina Creação,
Dentro de si retine a comoção
De toda a imensidade comovida.

Abismos, onde as cataratas sôam,
Vales e montes, Mar, nuvens que vôam,
Ninguem vosso desejo imenso acalma;
Nenhum de vós, erguendo a mesma prece,
A si mesmo ou aos outros se conhece:
Só os deuses entendem a voss’alma.

Águia divina, que entendeste o Mundo,
Tu viste como o Céu era profundo
E o Mar inesgotavel,
Que tudo é Vida e toda a vida é Luta,
E, que arrancando a cada coisa viva
Sua virtude e espírito indomavel.