Página:A Relíquia.djvu/355

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agua, porque ninguem fôra á fonte; e sentadas na esteira, com os cabellos cahidos, aquellas que o tinham seguido de Galilêa fallavam d’elle, das primeiras esperanças, das parabolas contadas por entre os trigaes, dos tempos suaves á beira do lago...

Assim eu pensava, debruçado sobre o muro, olhando Jerusalem — quando no terraço surgiu, sem rumor, uma fórma envolta em linhos brancos, espalhando um aroma de canella e de nardo. Pareceu-me que d’ella irradiava um clarão, que os seus pés não pisavam as lages — e o meu coração tremeu! Mas d’entre os pallidos panos uma benção sahiu, grave e familiar:

— Que a paz seja comvosco!

Ah! que allivio! Era Gad.

— Que a paz seja comtigo!

O Essenio parou diante de nós, calado; e eu sentia os seus olhos procurarem o fundo da minha alma, para lhe sondar bem a grandeza e a força. Por fim murmurou, immovel como uma imagem tumular nas suas grandes vestes brancas:

— A lua vai nascer... Todas as coisas esperadas se estão cumprindo... Agora, dizei! Sentis o coração forte para acompanhar Jesus, e guardal-o até ao oasis d’Engaddi?

Ergui-me, atirando os braços ao ar,