Página:A Relíquia.djvu/430

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de linho appareceu... A titi segurou-a nas pontas dos dedos, repuxou-a bruscamente — e sobre a ara, por entre os santos, em cima das camelias, aos pés da Cruz — espalhou-se, com laços e rendas, a camisa de dormir da Mary!

A camisa de dormir da Mary! Em todo o seu luxo, todo o seu impudor, enxovalhada pelos meus abraços, com cada préga fedendo a peccado! A camisa de dormir da Mary! E pregado n’ella por um alfinete, bem evidente ao clarão das velas, o cartão com a offerta em letra encorpada: — «Ao meu Theodorico, meu portuguezinho possante, em lembrança do muito que gozámos!» Assignado, M. M.... A camisa de dormir da Mary!

Mal sei o que occorreu no florido Oratorio! Achei-me á porta, enrodilhado na cortina verde, com as pernas a vergar, n’um desmaio. Estalando, como achas atiradas a uma fogueira, eu sentia as accusações do Negrão bradadas contra mim junto á touca da titi: — «Deboche! escarneo! camisa de prostituta! achincalho á snr.ª D. Patrocinio! profanação do Oratorio!» Distingui a sua bota arrojando furiosamente para o corredor o trapo branco. Um a um, entrevi os amigos perpassarem, como longas sombras levadas por um vento de terror. As luzes das velas