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A REVISTA

uma volta á relijião, e no mnndo ocidental quem diz relijião diz cristia- nismo. Nossos filhos verão. Seguramente, o grande problema da atualidade em poezia é conciliar o espirito critico, cada vez mais absorvente e dominador, com as inpuziçõis e inperativos do espirito relljiozo. Dizem que a fé ezije a virjindade do cérebro. Ora, virjindade do cérebro inbecilidade total. Não sei bem si é assim. Então a fé é privilejio dos carneiros? Meu Deus! Não foi para responder a esta pergunta que escrevi este artigo... P. S.--No Brazil, onde só ha pouco se esboçou a reação modernista os poetas ainda têm vergonha de confessar a sua fé. Mario de Andrade é corajozo e em 1922, na «Paulicéa desvairada», livro de lirismo um pouco, turvo porque de conbate, tem uma escapada soberba no poema «Religião: «Deus! Creio em ti! Creio na tua Biblia 1»


Os caprichos da sorte

(Continuação)


—O sr. vae ver. A sorte muda, quando menos se espera. Quando não vemos remedio para alguma cousa, de repente apparece uma solução feliz... E' ter paciencia... Uma pessoa não vale menos por ser pobre...

—De certo quenão! Confirmou dona Etelvina, vindo da cozinha com o café na bandeja. Para nós, rico ou pobre, o senhor será sempre o mesmo!

E estendeu ao compadre a bandeja, onde o café, coado de fresco, fumegava na tigellinha azul.