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DO INSTITUTO DO CEARÁ
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Ora, si Lord Byron queixava-se de não só elle como seos parentes nunca produzirem sinão fructos unicos, comparando-se por isso ás alimarias, tigres e leôas, que parem pouco[1], quanto mais o marido que nunca poude ser pae e gosar desta ineffavel delicia do coração humano!

Nada mais expressivo a este respeito do que o proverbio indiano: O homem só é completo quando é triplice: tem mulher e filhos.

Mas Ferreira enganou-se: elle teve não um, mas muitissimos filhos, todos immortaes, — esses que se contam por suas boas obras, impereciveis na gratidão publica e particular.


VII

Outra ordem de serviços, que não os meramente políticos, concorreo talvez ainda mais para fazel-o um benemerito.

Refiro-me aos que prestou como vereador e presidente da Camara Municipal da Capital no período não interrompido de 18 annos [2].

Entrou para a Camara, como vimos, em fins de Março de 1842, e já a 3 de Março do anno seguinte os amigos, reconhecendo sua superior aptidão, cederam-lhe a presidencia honra de que nunca mais foi preterido até a morte.


  1. Emilio Castellar, "Vida de Lord Byron", Pag. 11.
  2. O leitor vae ver que o major João Brigido não foi justo nem exacto quando disse na sua "Chronica, A Fortaleza em 1810, Pag. 29":

    « O serviço, por tanto, que se tem attribuido a Antonio Rodrigues Ferreira, de ter alinhado a cidade fica redusido ao facto de ter contribuido poderosamente, em epochas posteriores, para. a observação d’aquelle plano. A outro boticario caberia a gloria pela execução do traçado de Paulet, sendo preciso restituir-lhe o que lhe tiraram, para illustrar o nome d’aquelle.

    Ferreira chegou ao Ceará em 1825, quando já existiam muitas ruas da nova planta. Entrou para a Camara, na qualidade de vice-presidente, na eleição, que se fez no governo de Fausto A. de Aguiar (1848) e servio de presidente no quatriennio seguinte, fallecendo em 1856 ».