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REVISTA TRIMENSAL

não nas idéas praticas; o poder era tudo; fui liberal. Hoje porém é diverso o aspecto da sociedade; os principios democraticos tudo ganharam e muito comprometteram; a sociedade que então corria risco pelo poder, corre agora risco pela desorganisação e pela anarchia. Como então quiz, quero hoje servil-a, quero salval-a; e por isto sou regressista. Não sou transfuga, não abandono a causa que defendo no dia dos seos perigos, da sua fraqueza; deixo-a no dia em que tão seguro é o seo triumpho que até o excesso a compromette.

« Quem sabe si, como hoje defendo o paiz contra a desorganisação, depois de o haver defendido contra o despotismo e as commissões militares, não terei algum dia de dar outra vez a minha voz ao apoio e á defeza da liberdade? Os perigos da sociedade variam: o vento das tempestades nem sempre é o mesmo; como hade o politico, cégo e immutavel, servir o seo paiz? »[1]

Essas idéas não podião deixar de quadrar a um espirito puro, bem intencionado e essencialmente patriotico.

A democracia tem certamente dous defeitos que não podião seduzil-o: aspira apaixonadamente a dominar com exclusivismo, e é habitualmente dominada pelos instinctos e paixões do momento. A julgar pela historia do mundo, é de todos os poderes sociaes o mais exigente e imprevidente, o que menos divisões e limites admitte, assim como o que mais obedece ás fantasias presentes, sem cuidar do passado nem do futuro.[2]

Sobreleva que Alencar, para cuja eleição senatorial elle havia concorrido,[3] agora na administração da


  1. Vide Barão Homem de Mello, “Biographia de B. P. de Vasconcellos, na “Bibliotheca citada, Vol. 2, Pag. 57.
  2. Guizot, obr. cit., pag. 353.
  3. Major João Brigido, “Os Partidos políticos no Ceará, na Gazeta Litteraria da Corte,” Vol 1.º Pag. 205.