Página:A Viuva Simões.djvu/175

Wikisource, a biblioteca livre

Naquela noite Ernestina estava mais agitada do que nunca. O cansaço físico juntava-se à fadiga e tortura moral. Ela revoltava-se contra o corpo, sentindo por vezes vacilar-lhe a vista e a razão.

No silêncio profundo da noite, a badalada da uma hora soou como um grande suspiro de agonia. Ernestina levantou-se e foi direita à cômoda.

O médico tinha recomendado vigilância e extrema pontualidade nas horas do remédio... Ela tomou o vidro por onde o remédio coava uma boa cor opalina e aproximou-se do leito. Sara tinha os olhos abertos, mas como se não vissem; a mãe agitou-a, ela moveu a cabeça com um gemido... Ernestina chegou lhe a colher à boca, a moça cerrou apertadamente os lábios. Foi então uma luta até que a mãe forçou-a, batendo-lhe com a colher nos dentes, a tomar o remédio; chegava a ser brutal, mas queria a todo o custo a salvação da filha! Sara não pôde engolir o xarope, gorgolejou-lhe na boca e saiu espumante, escorrendo-lhe pelo queixo. Desesperada, Ernestina deu-lhe outra colher e tapou-lhe depois rapidamente a boca, com a mão espalmada. A doente engoliu com ruído, e ficou-se, como dantes, imóvel. A viúva beijou-a devagar, como a pedir perdão por aquela violência, e levantou-se; mas ao voltar-se estremeceu! Sobre a mesa de cabeceira estava o outro vidro de xarope.