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Colon tem estilo: este painel é um exemplo. Que vês? Uma paisagem campestre, arvoredo muito verde, e lá ao fundo um castelo com a bandeira da nacionalidade do dono da casa. É sempre assim. Há outros mais curiosos. O Oliveira completa os trabalhos sempre com cortinas iguais às que se usavam nos antigos panos de boca dos teatros. O trabalho é o abuso do azul, desde o azul claro ao azul negro.

– Mas estás a contar os tiques de grandes pintores.

– São parecidos. Eu conheço muitos mais: o velho Marcelino, que tem a especialidade de pintar os homens no pifão; o Henrique da Gama, o primeiro dos nossos fingidores, que faz um metro de mármore em cada cinco minutos; o Francisco de Paula, que adora os papagaios e faz caricaturas; o Malheiros, que reúne gatos, cachorros, cascatas e caboclos em cada tela. É o ideal da arte! São eles os autores dos estandartes dos cordões; são eles que enriquecem! Já entraste num desses ateliers, no Cunha dos PP, no Garcia Fernandes da Rua do Senhor dos Passos? Pois é como um desses studios da Flandres antiga, em que os grandes artistas assinavam os trabalhos dos discípulos, é como se entrasse na grande manufatura da pintura assinada. Vamos ao Cunha.

– Não, não, por hoje basta.

– Mas pelo menos vem admirar na Rua Frei Caneca 1660 famoso trabalho do Xavier.

– O famoso trabalho?

Se os outros, que não eram famosos e não eram