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o que não o recomenda muito ao senso estético do Rio. Quando os cegos e esse zás-trás amolavam muito, lá havia sempre algum para gritar:

– Ó Lírico ambulante!

E o Saldanha, pançudo, grave, imperturbável:

– Obrigado pelo elogio!

Pois todo o pessoal enriqueceu. O negro casou em Portugal , o Zás-trás conseguiu tudo com jeito, e eu fui encontrar o Saldanha aposentado, considerado como um velho artista diante de um copo de cerveja.

– Fizemos várias tournées, disse-me ele, percorremos o Brasil, do Rio Grande ao Pará. Ajuntamos alguma coisa...

E não se trata de um caso esporádico. O resultado é geral. O José, italiano capenga, que chegou ao Rio em 1875, alugou, para não trabalhar, um piano de manivela. Em seguida, o seu espírito inventivo foi até comprar um realejo com bonecos mecânicos, entre os quais havia um de mão estendida, que engolia as moedas e punha fora outra qualquer coisa. Esse boneco, a valsa dos Sinos de Corneville, o Caballero de Gracia e o Bendengó deram-lhe uma fortuna. E José resolveu jogar, à farta, jogar forte.

Jogou tanto que teve de arranjar um sócio, personagem fantástico, que dá pela alcunha de Cavalière Midaglia.

O Cavalière gosta também da batota e principalmente do bicho. Até duas horas, dinheiro para o avestruz; nas primeiras horas da noite, cervejinha na fábrica Santa-Maria; depois, la mare dos