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peixes do tamanho dos reis magos, no da Rua da Imperatriz alguns caçadores e um padre conversam com S. José; em Itapagipe encontrei uma montanha suíça com uma vaqueira perto do rei Gaspar.

– Por que fazem presepes? indago.

Uns respondem que por promessa, outros sorriem e não dizem palavra. São os mais numerosos. E a galeria continua a desfilar – presepes que parecem pombais, feitos de arminho e penas de aves; presepes todos de bolas de prata com bonequinhos de biscuit; presepes armados com folhas de latão, castiçais com velas acesas e fotografias contemporâneas, tendo por lagos, pedaços de espelho e o burro da Virgem com um selim à moderna; presepes em que no meio do capim há casas de dois andares com venezianas e caras de raparigas à janela – uma infinidade inacreditável.

O mais interessante, porém, fui encontrar na praia Formosa, centro de um cordão carnavalesco de negros baianos. Essas criaturas dão-me a honra da sua amizade. O presepe está armado no quarto da sala de visitas.É inaudito, todo verde com lantejoulas de prata.

O céu, pintado por um artista espontâneo, tem, entre nuvens, sol com uma cara raspada de americano truster, a lua, maior que o sol, a imagem da Virgem Mãe. Dois raios de filó prata bambamente pendem do azul sob o estábulo divino, iluminado a giorno. Descendo a montanha, montados em camelos, vêm os três reis