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Rei da capoeiragem tem seu lugar junto de Baltasar. Capoeiragem tem sua religião.

Abri os olhos pasmados. O negro riu.

– V. Sa não conhece a arte? Hoje está por baixo. Valente de verdade só há mesmo uns dez: João da Sé, Tito da Praia, Chico Bolivar, Marinho da Silva, Manuel Piquira, Ludgero da Praia, Manuel Tolo, Moisés, Mariano da Piedade, Cândido Baianinho, outros...Esses "cabras" sabiam jogar mandinga como homens...

– Então os capoeiras estão nos presepes para acabar com as presepadas...

– Sim senhor. Capoeiragem é uma arte, cada movimento tem um nome. É mesmo como sorte de jogo. Eu agacho, prendo V. Sa pelas pernas e viro – V. Sa virou balão e eu entrei debaixo. Se eu cair virei boi. Se eu lançar uma tesoura eu sou um porco, porque tesoura não se usa mais. Mas posso arrastar-lhe uma tarrafa mestra.

– Tarrafa?

– É uma rasteira com força. Ou esperar o degas de galho, assim duro, com os braços para o ar e se for rapaz da luta, passar-lhe o tronco na queda, ou, se for arara, arrumar-lhe mesmo o bauú, pontapé na pança. Ah! V. Sa não imagina que porção de nomes tem o jogo. Só rasteira, quando é deitada, chama-se banda, quando com força tarrafa, quando no ar para

bater na cara do cabra meia-lua.

– Mas é um jogo bonito! fiz para contentá-lo.

– Vai até o auô, salto mortal, que se inventou na Bahia.