Página:A alma encantadora das ruas (1910).pdf/160

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na sombra, morta, enterrada, perdida para o mundo, a voz das monjas varava o ar como o som de um cristal quebrado, retorcia-se no sacrifício do louvor do deus que nascera de um seio humano, espiralava como uma contorção histérica, soluçava cantando...

Ia mais adiante, mas na minha frente um latagão bocejou:

– Que cacetada!

– É verdade, vamo-nos, respondeu a companheira.

– Ainda temos tempo de ir a Copacabana.

Consultou o relógio e começou a sair, imprimindo tal movimento à massa de gente, que eu, com outros mais, de recuar tanto, me achei de novo na porta triste e humilde.

– Ó José, vamos a Copacabana?

– Anda daí.

Copacabana devia ser divertido. Tomei de novo o automóvel e disse ao chauffeur:

– Para Copacabana.

Naquele delicioso percurso da Avenida Beira-Mar, toda ensopada de luz elétrica, outros automóveis de toldo arriado, outros carros, outras conduções corriam na mesma direção. Homens espapaçados nas almofadas davam vivas, mulheres de grandes chapéus estralejavam risos, era uma estrepitosa e inédita corrida para Cítera. Quando, no fim da avenida, os automóveis seguiram pelas antigas ruas, cada encontro de bonde era uma catástofre. Os tramways, apesar de comboiarem três carros, iam com gente até aos