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Porque a massa é monarquista. Em compensação abundam os reis, as rainhas, os vassalos, reis de ouro, vassalos da aurora, rainhas do mar, há patriotas tremendos e a ode ao Brasil vibra infinita.

Neste momento tínhamos chegado a uma esquina atulhada de gente. Era impossível passar. Dançando e como que rebentando as fachadas com uma "pancadaria" formidável, estavam os do "Prazer da Pedra Encantada" e cantavam:

Tanta folia, Nenê!
Tanto namoro;
A "Pedra Encantada", ai! ai!
Coberta de ouro!

E o coro, furioso:

Chegou o povo, Nenê Floreada
É o pessoal, ai! ai!
Da "Pedra Encantada".

Mas a multidão, sufocada, ficava em derredor da "Pedra" entaipada por outros quatro cordões que se encontravam numa confluência perigosa. Apesar do calor, corria um frio de medo; as batalhas de confetti cessavam; os gritos, os risos, as piadas apagavam-se, e só, convulsionando a rua, como que sacudindo as casas, como que subindo ao céus, o batuque confuso, epiléptico, dos atabaques, "xequedés", pandeiros e tambores, os pancadões dos bombos, os urros das cantigas berradas para dominar os rivais, entre trilos de apitos, sinais misteriosos cortando a zabumbada delirante