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ouro e pela mão de Deus Nosso Senhor, Filho da Virgem Maria»!

É pois natural que as almas não se ofendam com um máo pedido e que S. Marcos— pobre santo! sorria quando ouvia á meia-noite esta tremenda oração brava, que lembra as scenas de enfeitiçamento médiévo:

 

«Chamo S. Marcos e S. Manços e seu confidente o anjo máu em meu auxilio para se apoderar do meu espirito e vida, juntamente com a pessoa que desejo fazer o mal, ou bem e com o dedo polegar da mão esquerda faço tres vezes o Signal da Cruz e com uma faca de ponta espetada na porta da rua ou mesa, coin um lenço ou guardanapo bem alvo direi as seguintes palavras:

Christo morreu, Christo soffreu, Christo padeceu: assim peço-vos meu Glorioso São Marcos e São Manços que soffra e padeça os maiores tormentos e torturas deste mundo a pessoa que eu quero para mim e pegando na faca com toda fé e coragem que me dá esta Oração darei quatro golpes na porta, ou mesa e pela quarta vez chamarei São Marcos e São Manços e o anjo máo, para me dar força e coragem de dizer: «Credo em Cruz» em circulo onde se acha a faça! Amen.»

 

Oh! o poder da palavra pronunciada misteriosamente! Os homens de todos os paizes, de todas as terras têm-lhe um terror sagrado. Essas orações ainda guardam um sentido mais ou menos claro. A maior parte porém é apenas um estranho jogo de disparates, uma trapalhada alucinante. Ha uma oração contra o sol, que ao lel-a sente a gente a vertigem do desequilibrio:

 

«Deus quando pelo mundo andou muito sol e calor