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a campanha de canudos

Prevendo eventualidades, que a rebeldia de sua attitude positivamente provocava, os habitantes de Canudos trataram de se garantir contra qualquer movimento, que visasse perseguil-os ou desalojal-os. E dahi procedeu — que elles ediflcaram suas casas, attendendo a um plano de defesa, mais ou menos estratégico; e se premuniram de munições e armas, que nos momentos opportunos tornariam mais efficazes a sua abnegação e valentia.

E foi desse modo que se formou aquella nova Vendéa, com­parável á da França pelos accidentes topographicos, que ambas offereciam, natureza especial do solo, devotamento cégo a uma superstição e a um erro, pretexto religioso tambem como justifi­cativa de uma conducta antipatriotica, insensata e criminosa afinal.

Para ser mais perfeita a semelhança, que assim fica indi­cada, o jagunço[1] bahiano usava de processo egual ao dos insurrectos de gleba franceza. Elle caçava os soldados republi­canos, de dentro dos matagaes onde costumava se occultar, como os outros tinham atacado o exercito nacional, a fuzil, « de cima das escarpas, através das sebes traiçoeiras ; tendo-o quasi prisioneiro em verdadeiros calabouços de pedra : de um lado e outro a linha violenta e escabrosa dos despenhadeiros, além o catingal espesso, impenetrável, prenhe dos mysterios horríveis da emboscada e da morte ».

Urgia, comtudo, fazer tal gente entrar na ordem economica e juridica; tornava-se imprescindível que cessasse de uma vez essa ameaça constante á paz publica.

Quem era, no entanto, esse homem que aos 60 annos de edade congregava em torno de sua individualidade tão grandes elementos de acção e reacção ? Donde tinha vindo ? De que meios usava para se fazer amar e servir ? O que pretendia, insur­gindo-se contra os Poderes politicos da nação ? Como con­seguira ser o heróe dessa epopéa, cujas estrophes o fragor

  1. Jagunço è o indivíduo que vive habitualmente envolvido em desordem, por conta própria ou alheia.