das tempestades ha de repetir por muitos annos, penetrando até ás frinchas das serras que alcantilam o norte da Bahia ?
Antonio Vicente Mendes Maciel, conhecido depois por Antonio Conselheiro, nascera em Quixeramobim, da antiga província do Ceará. Descendia de uma familia, cujos membros— na maior parte — soffriam de alienação mental. Seu pae — Vicente Mendes Maciel — fora um dos celebres Macieis, cuja coragem tornara lendário esse nome declinado na historia criminal daquelle Estado ; era negociante, homem bonito, a tez ligeiramente morena, vigoroso e inteligente, mais retrahido, taciturno, mau, e perigosamente desconfiado, bem que muito cortez, obsequiador e honrado. Tinha momentos terríveis de cólera, principalmente si tocava em alcool. Era de uma valentia indomita, e meio surdo.[1] A mãe de Antonio Conselheiro chamava-se Maria Maciel, mas era geralmente conhecida pelo appellido de Maria Chana.
Depois de ter deixado a escóla primaria, Antonio Vicente, que era de indole docil, intelligente e avesso aos prazeres, havia iniciado o estudo da lingua latina, e duvidoso não è que lograsse aproveitar do ensino de seus professores, porquanto, dispunha de certa cultura que de muito lhe valeu no desempenho do papel que escolhera para alcançar nomeada.
Um medico illustrado escrevia, em 1897 :
« Antonio Conselheiro ó seguramente um simples louco. Mas, essa loucura é daquellas, em que a fatalidade inconsciente da moléstia registra com precisão instrumental o reflexo, senão de uma época, pelo menos do meio em que ellas se geraram. » E accrescentava : « a crystallização do delirio de Antonio Conselheiro no terceiro periodo de sua psychose progressiva, reflecte as condições sociologicas do meio em que se organizou. »[2]
Antonio Maciel, porém, se casara em tempo com uma parenta, filha de Francisca Maciel, irmã de seu pae. Não foi, todavia, feliz em seu lar. Desavindo-se com a sogra, liquidou