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a campanha de canudos
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As ruas do povoado iam desapparecendo uma a uma, pois as casas estalavam, ruiam, successivãmente, atacadas pelas la­baredas que se estorciam sinistras.

De quando em quando, o estrondo de uma explosão tornava mais sombrio e funereo o quadro dessa enorme des­graça.

Escapando, por fim, ás furias do incendio irreprimível, cres­cente, inexoravel, algumas pobres mulheres — trazendo ao collo os filhinhos espantados — corriam para o acampamento na esperança de serem acolhidas e poupadas.

E o incendio continuava impavido ! O vento, que soprava rijo, atirava as fagulhas até distancias consideraveis.

Com pequenos intervallos, « lá dentro, por entre as chammas alterosas de mais uma habitação que ardia, mulheres, ho­mens e crianças desappareçiam em busca da morte, que pre­feriam resolutamente ã essa entrega discricionaria, que não lhes garantia o destino com que á ultima hora sonharam».[1]

Entrega discricionaria, porque o vox victus fôra pronunciado pelo general Arthur Oscar, quando o Beatinho se lhe apresen­tara na qualidade de parlamentar, propôndo a rendição dos jagunços, comtanto que os deixassem com as suas armas de caça tomar o caminho que lhes aprouvesse.

O Beatinho voltara para consultar os seus correligionarios, mas todos estes repelliram sobranceiramente a condição que se lhes impunha.

Findo, pois, o prazo do armistício concedido para a re­sposta dos fanaticos, as hostilidades recomeçaram — de parte a parte — mais obstinadas talvez. Ao terceiro disparo das forças legaes, os jagunços acertaram dar uma descarga tremenda e fatal. E desde então as balas cruzaram-se em todos os sentidos, e a dor e a morte continuaram na sua obra de lagrimas e sangue. A noite que sobreviera poz remate ao triste episodio, gerado por uma resistencia de que bem poucos exemplos a His­toria conhece.

  1. Dantas Barreto, Ultima expedição a Canudos, pag. 225.