Página:A campanha de Canudos.pdf/77

Wikisource, a biblioteca livre
a campanha de canudos
73

O coronel Tamarindo assumiu, logo, o commando geral da expedição ; mas, fel-o desconhecendo o verdadeiro estado das cousas.

De 4 para 5 horas, embora continuasse acceso e animado o combate, não se conseguia, comtudo, manter nelle a ordem desejavel. No entanto, os fanaticos, apezar dos muitos claros abertos em suas fileiras, lutavam com arrojo e valentia memo­raveis. Não esmoreciam, não reouavam; parecia mesmo que se multiplicavam, pois sempre que um delles tombava, morto ou ferido, dois ou tres outros vinham substituil-o, com a physionomia illuminada pelos lampejos da fé, com o animo alevantado pelas suggestões da bravura.

As pontarias, que elles faziam, quasi todas eram certeiras e fataes. A julgar pela qualidade dos ferimentos, a gente do Conselheiro atirava com armas Chuchú, Mannlicher e Comblain.

O batalhão 16° foi commandado pelo capitão A. Villarinho, a cavallaria pelo capitão Alvaro Pedreira Franco, e a artilharia pelo capitão F. Salomão.

No hospital de sangue, os medicos desenvolveram louvavel actividade e zelo, dignos de francos encomios.

Eram 7 horas da noite, quando os clarins e as cornetas deram signal de retirada:

« O som monotono dos sinos das egrejas e dos canticos re­ligiosos dos fanaticos, a agonia dos moribundos, e os gemidos dos feridos, ainda mais aggravaram o desanimo dos retirantes, já exhaustos da cansaço, de fome e de sêde. »[1]

Certo é — que a manobra ordenada foi desfavoraval em extremo á força legal, obrigada por tal modo a deixar os reductos já conquistados ao inimigo, ao preço de muitas vidas preciosas.

Em todo ocaso, a noite passou sem a menor novidade. No povoado de Cauudos, não se fez durante ella um disparo que fosse, não obstante haverem convergido para o centro delle todos os combatentes do Conselheiro. Por esse motivo, alguns soldados poderam se apossar de uma pequena venda de molhados, onde

  1. Jornal do Commercio, do Rio, da 19 de novembro de 1898.