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A cidade e as serras
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riso, d’este Mundo burlesco e sordido de Jacinthos e de Colombes! E de repente senti uma angustia horrenda. Era Ella! Era a Madame Colombe, que esfuziára da chamma da vela, e saltára sobre o meu leito, e desabotoára o meu collete, e arrombára as minhas costellas, e toda ella, com as saias sujas, mergulhára dentro do meu peito, e abocára o meu coração, e chupava a sorvos lentos, como na rua do Helder, o sangue do meu coração! Então, certo da Morte, ganindo pela tia Vicencia, pendi do leito para mergulhar na minha sepultura, que, através da nevoa final, eu distinguia sobre o tapete — redondinha, vidrada, de porcelana e com aza. E, sobre a minha sepultura, que tão irreverentemente se assimilhava ao meu vaso, vomitei o Borgonha, vomitei o pato, vomitei a lagosta. Depois, n’um esforço ultra-humano, com um rugido, sentindo que, não sómente toda a entranha, mas a alma se esvasiava toda, vomitei Madame Colombe! Recahi sobre o leito de D. Galião... Recarreguei o chapéo sobre os olhos para não sentir os raios do sol. Era um sol novo, um sol espiritual, que se erguia sobre a minha vida. E adormeci, como uma creancinha docemente embalada n’um berço de verga pelo Anjo da Guarda.

De manhã, lavei a pelle n’um banho profundo, perfumado com todos os aromas do