Página:A cidade e as serras (1901).pdf/137

Wikisource, a biblioteca livre
A cidade e as serras
123

elle a força e belleza harmoniosa do corpo, e se tornou esse ser resequido e escanifrado ou obeso e afogado em unto, de ossos molles como trapos, de nervos tremulos como arames, com cangalhas, com chinós, com dentaduras de chumbo, sem sangue, sem febra, sem viço, torto, corcunda — esse ser em que Deus, espantado, mal póde reconhecer o seu esbelto e rijo e nobre Adão! Na Cidade findou a sua liberdade moral: cada manhã ella lhe impõe uma necessidade, e cada necessidade o arremessa para uma dependencia: pobre e subalterno, a sua vida é um constante sollicitar, adular, vergar, rastejar, aturar; rico e superior como um Jacintho, a Sociedade logo o enreda em tradições, preceitos, etiquetas, ceremonias, praxes, ritos, serviços mais disciplinares que os d’um carcere ou d’um quartel... A sua tranquillidade (bem tão alto que Deus com elle recompensa os Santos) onde está, meu Jacintho? Sumida para sempre, n’essa batalha desesperada pelo pão, ou pela fama, ou pelo poder, ou pelo gôzo, ou pela fugidia rodella d’ouro! Alegria como a haverá na Cidade para esses milhões de seres que tumultuam na arquejante occupação de desejar — e que, nunca fartando o desejo, incessantemente padecem de desillusão, desesperança ou derrota? Os sentimentos mais genuinamente