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A cidade e as serras

humanos logo na Cidade se deshumanisam! Vê, meu Jacintho! São como luzes que o aspero vento do viver social não deixa arder com serenidade e limpidez; e aqui abala e faz tremer; e além brutamente apaga; e adiante obriga a flammejar com desnaturada violencia. As amizades nunca passam d’allianças que o interesse, na hora inquieta da defeza ou na hora sofrega do assalto, ata apressadamente com um cordel apressado, e que estalam ao menor embate da rivalidade ou do orgulho. E o Amor, na Cidade, meu gentil Jacintho? Considera esses vastos armazens com espelhos, onde a nobre carne d’Eva se vende, tarifada ao arratel, como a de vacca! Contempla esse velho Deus do Hymeneu, que circula trazendo em vez do ondeante facho da Paixão a apertada carteira do Dote! Espreita essa turba que foge dos largos caminhos assoalhados em que os Faunos amam as Nymphas na boa lei natural, e busca tristemente os recantos lobregos de Sodoma ou de Lesbos!... Mas o que a Cidade mais deteriora no homem é a Intelligencia, por que ou lh’a arregimenta dentro da banalidade ou lh’a empurra para a extravagancia. N’esta densa e pairante camada d’Idéas e Formulas que constitue a atmosphera mental das Cidades, o homem que a respira, n’ella envolto, só pensa todos os