Página:A cidade e as serras (1901).pdf/154

Wikisource, a biblioteca livre
140
A cidade e as serras

cabiamos, suffocavamos na confusão, entre os cestos de flôres, e os ouros rocalhados, e os monstros do Japão, e a galante fragilidade dos Saxes, e as pelles de feras estiradas aos pés de sophás adormecedores, e os biombos de Aubusson formando alcôvas favoraveis e languidas... Aninhada n’uma cadeira de bambú lacada de branco, entre almofadas aromatisadas de verbena da India, com um romance pousado no regaço, ella esperava o seu amigo, n’uma certa indolencia passiva e mansa que me lembrava sempre o Oriente e um Harem. Mas, pelas frescas sedinhas Pompadour, parecia tambem uma marquezinha de Versalhes cançada do grande seculo; ou então, com brocados sombrios e largos cintos cravejados, era como uma veneziana, preparada para um Doge. A minha intrusão, na intimidade d’aquellas tardes, não a contrariava — antes lhe trazia um vassallo novo, com dous olhos novos para a contemplar. Eu era já o seu cher Fernandez!

E apenas descerrava os labios avivados de vermelho, semelhantes a uma ferida fresca, e começava a chalrar — logo nos envolvia o burburinho e a murmuração de Paris. Ella só sabia chalrar sobre a sua pessoa que era o resumo da sua Classe, e sobre a sua existencia que era o resumo do seu Paris: — e a sua existencia,