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A cidade e as serras
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desde casada, consistira em ornar com suprema sciencia o seu lindo corpo; entrar com perfeição n’uma sala e irradiar; remexer em estofos e conferenciar pensativamente com o grande costureiro; rolar pelo Bois pousada na sua vittoria como uma imagem de cêra; decotar e branquear o collo; debicar uma perna de gallinhola em mezas de luxo; fender turbas ricas em bailes espessos; adormecer com a vaidade esfalfada; percorrer de manhã, tomando chocolate, os «Echos» e as «Festas» do Figaro; e de vez em quando murmurar para o marido — «Ah, és tu?...» Além d’isso, ao lusco-fusco, n’um sophá, alguns certos suspiros, entre os braços d’alguem a quem era constante. Ao meu Principe, n’esse anno, pertencia o sophá. E todos estes deveres de Cidade e de Casta os cumpria sorrindo. Tanto sorrira, desde casada, que já duas prégas lhe vincavam os cantos dos beiços, indelevelmente. Mas nem na alma, nem na pelle, mostrava outras maculas de fadiga. A sua Agenda de Visitas continha mil e tresentos nomes, todos do Nobiliario. Através, porém, desta fulgurante sociabilidade arranjára no cerebro (onde de certo penetrára o pó d’arroz que desde o collegio acamava na testa) algumas Idéas Geraes. Em Politica era pelos Principes; e todos os outros «horrores», a Republica, o Socialismo,