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A cidade e as serras
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punhos na cabeça, e gritei — vou a Tormes! E vou!... E tu vens!

Eu enfiara as chinellas, apertava os cordões do roupão:

— Mas tu sabes, meu bom Jacintho, que a casa de Tormes está inhabitavel...

Elle cravou em mim os olhos aterrados.

— Medonha, hein?

— Medonha, medonha, não... É uma bella casa, de bella pedra. Mas os caseiros, que lá vivem ha trinta annos, dormem em catres, comem o caldo á lareira, e usam as salas para seccar o milho. Creio que os unicos moveis de Tormes, se bem recordo, são um armario, e uma espinetta de charão, côxa, já sem teclas.

O meu pobre Principe suspirou, com um gesto rendido em que se abandonava ao Destino:

— Acabou!... Alea jact est! E como só partimos para abril, ha tempo de pintar, d’assoalhar, d’envidraçar... Mando d’aqui de Paris tapetes e camas... Um estofador de Lisboa vae depois forrar e disfarçar algum buraco... Levamos livros, uma machina para fabricar gelo... E é mesmo uma occasião de pôr emfim n’uma das minhas casas de Portugal alguma decencia e ordem. Pois não achas?