Página:A cidade e as serras (1901).pdf/196

Wikisource, a biblioteca livre
182
A cidade e as serras

de saccos de couro, de rolos de mantas: e mais atraz um omnibus rangia sob a carga de vinte e tres malas. Na Estação, Jacintho ainda comprou todos os Jornaes, todas as Illustrações, Horarios, mais livros, e um saca-rolhas de fórma complicada e hostil. Guiados pelo Chefe do Trafico, pelo Secretario da Companhia, occupamos copiosamente o nosso salão. Eu puz o meu bonet de sêda, calcei as minhas chinellas. Um silvo varou a noite. Paris lampejou, fugiu n’um derradeiro clarão de janellas... Para o sorver, Jacintho ainda se arremessou á portinhola. Mas rolavamos já na treva da Provincia. O meu Principe então recahiu nas almofadas:

— Que aventura, Zé Fernandes!

Até Chartres, em silencio, folheamos as Illustrações. Em Orleans, o guarda veio arranjar respeitosamente as nossas camas. Derreado com aquelles quatorze mezes de Civilisação adormeci — e só acordei em Bordeus quando Grillo, zeloso, nos trouxe o nosso chocolate. Fóra, uma chuva miudinha pingava mollemente d’um espesso ceu de algodão sujo. Jacintho não se deitára, desconfiado da aspereza e da humidade dos lençoes. E, mettido n’um roupão de flanella branco, com a face arripiada e estremunhada, ensopando um bolo no chocolate, rosnava sombriamente:.