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A cidade e as serras
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uma garrafa de Amontillado — quando o comboio, muito sorrateiramente, penetrou n’uma Estação. Era a Regoa. E o meu Principe pousou logo a faca para chamar o Grillo, reclamar as malas que traziam o aceio dos nossos corpos.

— Espera, Jacintho! Temos muito tempo, O comboio pára aqui uma hora... Come com tranquillidade. Não escangalhemos este almocinho com arrumações de maletas... O Grillo não tarda a apparecer.

E corri mesmo a cortina, porque de fóra um padre muito alto, com uma ponta de cigarro collada ao beiço, parára a espreitar indiscretamente o nosso festim. Mas quando acabamos as perdizes, e Jacintho confiadamente desembrulhava um queijo manchego, sem que Grillo ou Anatole comparecessem, eu, inquieto, corri á portinhola para apressar esses servos tardios... E n’esse instante o comboio, largando, deslisou com o mesmo silencio sorrateiro. Para o meu Principe foi um desgosto:

— Ahi ficamos outra vez sem um pente, sem uma escova... E eu que queria mudar de camisa! Por culpa tua, Zé-Fernandes!

— É espantoso!... Demora sempre uma eternidade. Hoje chega e abala! Paciencia, Jacintho. Em duas horas estamos na Estação de Tormes... Tambem não valia a pena mudar