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A cidade e as serras
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flôres silvestres. Brancas rochas, pelas encostas, alastravam a solida nudez do seu ventre polido pelo vento e pelo sol; outras, vestidas de lichen e de silvados floridos, avançavam como prôas de galeras enfeitadas: e, d’entre as que se apinhavam nos cimos, algum casebre que para lá galgára, todo amachucado e torto, espreitava pelos postigos negros, sob as desgrenhadas farripas de verdura, que o vento lhe semeára nas telhas. Por toda a parte a agua sussurrante, a agua fecundante... Espertos regatinhos fugiam, rindo com os seixos, d’entre as patas da egua e do burro; grossos ribeiros açodados saltavam com fragor de pedra em pedra; fios direitos e luzidios como cordas de prata vibravam e faiscavam das alturas aos barrancos; e muita fonte, posta á beira de veredas, jorrava por uma bica, beneficamente, á espera dos homens e dos gados... Todo um cabeço por vezes era uma ceára, onde um vasto carvalho ancestral, solitario, dominava como seu senhor e seu guarda. Em socalcos verdejavam laranjaes rescendentes. Caminhos de lages soltas circumdavam fartos prados com carneiros e vaccas retouçando: — ou mais estreitos, entalados em muros, penetravam sob ramadas de parra espessa, n’uma penumbra de repouso e frescura. Trepavamos então alguma ruasinha de aldeia, dez ou doze