Página:A cidade e as serras (1901).pdf/219

Wikisource, a biblioteca livre
A cidade e as serras
205

E não temos cavallos! O melhor é vêr o casarão, comer a boa gallinha que o nosso amigo Melchior nos assa no espeto, dormir n’uma enxerga, e ámanha cedo, antes do calor, trotar para cima, para a tia Vicencia.

Jacintho replicou, com uma decisão furiosa:

— Ámanhã troto, mas para baixo, para a estação!... E depois, para Lisboa!

E subiu a gasta escadaria do seu solar com amargura e rancor. Em cima uma larga varanda acompanhava a fachada do casarão, sob um alpendre de negras vigas, toda ornada, por entre os pilares de granito, com caixas de pau onde floriam cravos. Colhi um cravo amarello — -e penetrei atraz de Jacintho nas salas nobres, que elle contemplava com um murmurio de horror. Eram enormes, d’uma sonoridade de casa capitular, com os grossos muros ennegrecidos pelo tempo e o abandono, e regeladas, desoladamente núas, conservando apenas aos cantos algum monte de canastras ou alguma enxada entre paus. Nos tectos remotos, de carvalho apainelado, luziam através dos rasgões manchas de céo. As janellas, sem vidraças, conservavam essas macissas portadas, com fechos para as trancas, que, quando se cerram, espalham a treva.