Página:A cidade e as serras (1901).pdf/224

Wikisource, a biblioteca livre
210
A cidade e as serras

— É o que basta! acudi eu, para o consolar. Por uma noite, com lençoes frescos...

— Ah, lá pelos lençoesinhos respondo eu!... Mas um desgosto assim, meu senhor! A gente apanhada sem um colxãosinho de lã, sem um lombosinho de vacca... Que eu já pensei, até lembrei á minha comadre, V. Inc.as podiam ir dormir aos Ninhos, a casa do Silverio. Tinham lá camas de ferro, lavatorios... Elle sempre é uma legoasita e mau caminho...

Jacintho, bondoso, accudiu:

— Não, tudo se arranja, Melchior. Por uma noite!... Até gósto mais de dormir em Tormes, na minha casa da serra!

Sahimos ao terreiro, retalho de horta fechado por grossas rochas encabelladas de verdura, entestando com os socalcos da serra onde lourejava o centeio. O meu principe bebeu da agua nevada e lusidia da fonte, regaladamente, com os beiços na bica; appeteceu a alface rechonchuda e crespa; e atirou pulos aos ramos altos d’uma copada cerejeira, toda carregada de cereja. Depois, costeando o velho lagar, a que um bando de pombas branqueava o telhado, deslisámos até ao carreiro, cortado no costado do monte. E andando, pensativamente, o meu Principe pasmava para os milheiraes, para os vetustos carvalhos plantados por vetustos Jacinthos, para os casebres