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A cidade e as serras

Assim viveram os velhos Sabinos. Assim Romolo e Remo... Assim cresceu a valente Etruria. Assim Roma se tornou a maravilha do mundo!

E immovel, com a mão agarrada á infusa, o Melchior arregalava para nós os olhos em infinito assombro e religiosa reverencia.


Ah! Jantamos deliciosissimamente, sob os auspicios do Melchior — que ainda depois, próvido e tutelar, nos forneceu o tabaco. E, como ante nós se alongava uma noite de monte, voltamos para as janellas desvidraçadas, na sala immensa, a contemplar o sumptuoso céo de verão. Philosophámos então com pachorra e facundia.

Na Cidade (como notou Jacintho) nunca se olham, nem lembram os astros — por causa dos candieiros de gaz ou dos globos de electricidade que os offuscam. Por isso (como eu notei) nunca se entra n’essa communhão com o Universo que é a unica gloria e unica consolação da Vida. Mas na serra, sem predios disformes de seis andares, sem a fumaraça que tapa Deus, sem os cuidados que como pedaços de chumbo puxam a alma para o pó rasteiro — um Jacintho, um Zé Fernandes, livres, bem jantados, fumando nos poiaes