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A cidade e as serras

portadas das janellas, cerradas, abrigavam do sol que batia aquelle lado de Tormes, escaldando os peitoris de pedra. Do soalho, burrifado de agua, subia, na suavisada penumbra, uma frescura. Os cravos rescendiam. Nem dos campos, nem da casa, se elevava um rumor. Tormes dormia no esplendor da manhã santa. E, penetrado por aquella consoladora quietação de convento rural, terminei por me estender n’uma cadeira de verga, junto da mesa, abrir languidamente um tomo de Virgilio, e murmurar, appropriando o doce verso que encontrára:

Fortunate Jacinthe! Hic, inter arva nota Et fontes sacros, frigus captabis opacum...

Afortunado Jacintho, na verdade! Agora, entre campos que são teus e aguas que te são sagradas, colhes emfim a sombra e a paz!

Li ainda outros versos. E, na fadiga das duas horas de egua e calor desde Guiães, irreverentemente adormecia sobre o divino Bucoliasta — quando me despertou um berro amigo! Era o meu Principe. E muito decididamente, depois de me soltar do seu rijo abraço, o comparei a uma planta estiolada, emmurchecida na escuridão, entre tapetes e sêdas, que, levada para vento e sol, profusamente