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A cidade e as serras
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de Deus, Deus o nutre, sem que elle se mova ou se inquiete... E é esta segurança que lhe dá tanta graça e tanta magestade. Pois não achas?

Eu sorria, concordava. Tudo isto era de certo rebuscado e especioso. Mas que importavam as requintadas metaphoras, e essa metaphysica mal madura, colhida á pressa nos ramos d’um castanheiro? Sob toda aquella ideologia transparecia uma excellente realidade — a reconciliação do meu Principe com a Vida. Segura estava a sua Resurreição depois de tantos annos de cova, da cova molle em que jazera, enfaixado como uma mumia nas faixas do Pessimismo!

E o que esse Principe, n’esta tarde me esfalfou! Farejava, com uma curiosidade insaciavel, todos os recantos da serra! Galgava os cabeços correndo, como na esperança de descobrir lá do alto os esplendores nunca contemplados d’um Mundo inedito. E o seu tormento era não conhecer os nomes das arvores, da mais rasteira planta brotando das fendas d’um socalco... Constantemente me folheava como a um Diccionario Botanico.

— Fiz toda a sorte de cursos, passei pelos professores mais illustres da Europa, tenho trinta mil volumes, e não sei se aquelle senhor além é um amieiro ou um sobreiro....