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A cidade e as serras

Durante essas semanas que preguicei em Tormes, eu assisti, com internecido interesse, a uma consideravel evolução de Jacintho nas suas relações com a Natureza. D’aquelle periodo sentimental de contemplação, em que colhia theorias nos ramos de qualquer cerejeira, e edificava Systemas sobre o espumar das levadas, o meu Principe lentamente passava para o desejo da Acção... E d’uma acção directa e material, em que a sua mão, emfim restituida a uma funcção superior, revolvesse o torrão.

Depois de tanto commentar, o meu Principe, evidentemente, aspirava a crear.

Uma tardinha, ao anoitecer, sentados no pomar, no rebordo do tanque, em quanto o Manoel hortelão apanhava laranjas no alto d’uma escada arrimada a uma alta laranjeira, Jacintho observou, mais para si do que para mim:

— É curioso... Nunca plantei uma arvore!

— Pois é um dos tres grandes actos, sem os quaes segundo diz não sei que Philosopho, nunca se foi um verdadeiro homem... Fazer um filho, plantar uma arvore, escrever um livro. Tens de te apressar, para ser um homem. É possivel que talvez nunca prestasses um serviço a uma arvore, como se presta a um semelhante!.