Página:A cidade e as serras (1901).pdf/278

Wikisource, a biblioteca livre
264
A cidade e as serras

— Ponhamos duzentos... Tem a certeza! Com todos esses prados, e os encanamentos d’agoa e a configuração da serra alterada, e as vaccas inglezas, e os edificios de porcellana e vidro, e as maquinas, a extravagancia, e a patuscada bucolica, cada queijo te custa, a ti productor, duzentos mil réis. Mas com certeza o vendes no Porto por um tostão. Põe cincoenta réis para a caixa, rotulos, transporte, commissão, etc. Tens apenas, em cada queijo uma perda de cento e noventa e nove mil oitocentos e cincoenta réis!

O meu Principe não desanimou.

— Perfeitamente! Faço um d’esses espantosos queijos por semana, ao sabbado, para o comermos nós ambos ao domingo!

E tanta energia lhe communicava o seu novo Optimismo, tão anciosamente aspirava a crear, que logo, arrastando o Silverio e o Melchior por cabeços e barrancos, largou a percorrer a quinta toda, para determinar onde cresceriam, ao seu mando inspirado, os verdes prados, e se ergueriam, rebrilhantes no sol de Tormes, os curraes elegantes. Com a esplendida segurança dos seus cento e nove contos de renda, não surgia difficuldade, risonhamente murmurada pelo Melchior, ou exclamada, com respeitoso pasmo, pelo Silverio,