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A cidade e as serras

elle vivia no espanto e no deslumbramento de assim ter encontrado no meio do caminho da sua vida, o velho errante, o velho Homero!

— Oh Zé Fernandes, como succedeu que eu chegasse a esta edade sem ter lido Homero?...

— Outras leituras, mais urgentes... O Figaro, George Ohnet...

— Tu leste a Illiada?

— Menino, sinceramente me gabo de nunca ter lido a Illiada.

Os olhos do meu Principe fuzilavam.

— Tu sabes o que fez Alcibiades, uma tarde, no Portico, a um sophista, um desavergonhado d’um sophista, que se gabava de não ter lido a Illiada?

— Não.

— Ergueu a mão e atirou-lhe uma bofetada tremenda.

— Para lá, Alcibiades! Olha que eu li a Odyssea!

Oh! mas de certo eu a lêra, corridamente, com a alma desattenta! E insistia em me iniciar, elle, e me conduzir, através do Livro sem egual. Eu ria. E rindo, pesado do almoço, terminava por consentir, e me estirava no canapé de verga. Elle, deante da mesa, direito na cadeira, abria o livro gravemente, pontificalmente, como um missal, e começava