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A cidade e as serras
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n’uma lenta ode sentida. Aquelle grande mar da Odyssea, — resplandecente e sonoro, sempre azul, todo azul, sob o vôo branco das gaivotas, rolando, e mansamente quebrando sobre a areia fina ou contra as rochas de marmore das Ilhas divinas, — exhalava logo uma frescura salina, bem vinda e consoladora n’aquella calma de Junho, em que a serra se entorpecia. Depois as estupendas manhas do subtil Ulysses e os seus perigos sobrehumanos, tantas lamurias sublimes, e um anceio tão espalhado da Patria perdida, e toda aquella intriga, em que embrulhava os Heroes, lograva as Deusas, illudia o Fado, tinham um delicioso sabôr ali, nos campos de Tormes, onde nunca se necessitava de subtileza ou de engenho, e a Vida se desenrolava com a segurança immutavel com que cada manhã sempre o Sol egual nascia, e sempre centeios e milhos, regados por agoas eguaes, seguramente medravam, espigavam, amadureciam... Emballado pela recitação grave e monotona do meu Principe, eu cerrava as palpebras docemente. Em breve um vasto tumulto, por terra e ceu, me alvoroçava... E eram os rugidos de Polyphemo, ou a grita dos companheiros d’Ulysses roubando as vaccas de Apollo. Com os olhos logo esbugalhados para Jacintho, eu murmurava: