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A cidade e as serras
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de moscatel, pousando em esteios revestidos d’azulejo. E o meu Principe desenhára o plano d’esta espantosa horta, a lapiz vermelho, n’um papel immenso, que o Melchior e o Silverio, consultados, longamente contemplaram, — um coçando risonhamente a nuca, o outro com os braços duramente crusados, e o sobrôlho tragico.

Mas este plano, o da queijaria, o da capoeira, e outro, sumptuoso, d’um pombal tão povoado que todo o ceu de Tormes ás tardes se tornaria branco e todo fremente d’azas — não sahiam das nossas gostosas palestras, ou dos papeis em que Jacintho os debuxava, e que se amontoavam sobre a meza, platonicos, immoveis, entre o tinteiro de latão e o vaso com flôres.

Nem enxadada fendera terra, nem alavanca deslocára pedra, nem serra serrára madeira, para encetar estas maravilhas. Contra a resistencia rebolada e escorregadia do Melchior, contra a respeitosa inercia do Silverio se quedavam, encalhados, os planos do meu Principe, como galeras vistosas em rochas ou em lôdo.

Não convinha bolir em nada, (clamava o Silverio) antes das colheitas e da vindima! E depois, (acrescentava o Melchior com um sorriso