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A cidade e as serras
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guarda-chuva vermelho, que acenava, nos indicava o trilho mais curto para aquelle abrigo. E para lá rompemos, com a chuva a escorrer na cara, patinhando na lama, contorcidos, cambaleantes, atordoados no vendaval, que n’um instante alagára os campos, inchára os ribeiros, esboroava a terra dos socalcos, lançára n’um desespero todo o arvoredo, tornára a serra negra, bravamente agreste, hostil, inhabitavel.

Quando emfim, debaixo do vasto guarda-chuva com que o Silverio nos esperava á beira do campo, corremos para o alpendre, nos refugiamos n’aquelle abrigo inesperado, a escorrer, a arquejar, o meu Principe, enxugando a face, enxugando o pescoço, murmurou, desfallecido:

— Apre! que ferocidade!

Parecia espantado d’aquella brusca, violenta colera d’uma serra tão amavel e accolhedora, que em dous mezes, inalteradamente, só lhe offerecera doçura e sombra, e suaves ceus, e quietas ramagens, e murmurios discretos de ribeirinhos mansos.

— Santo Deus! Vem muitas vezes assim, estas borrascas?

Immediatamente o Silverio aterrou o meu Principe:

— Isto agora são brincadeiras de verão,