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A cidade e as serras
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a mão pensativa sobre o negrume das suas barbas, reflectia, emendava os seus prognosticos:

— Pois, não senhor... Ainda estía! Nunca pensei. É que tornejou o vento.

O alpendre que nos cobria assentava sobre duas paredes em angulo, de pedra solta, restos d’algum casebre desmantelado, e sobre um esteio fazendo cunhal. N’esse momento só abrigava madeira, um cuculo de cestos vasios, e um carro de bois, onde o meu Principe se sentára, enrolando um cigarro confortador. A chuva desabava, copiosa, em longos fios reluzentes. E todos tres nos callavamos, n’aquella contemplação inerte e sem pensamento, em que uma chuva grossa e serena sempre immobilisa e retem olhos e almas.

— Ó Snr. Silverio, murmurou lentamente o meu Principe, que é que o senhor esteve ahi a dizer de bexigas?

O procurador voltou a face surprehendido:

— Eu, Ex.mo Snr.?... Ah sim! a mulher do Esgueira! É que póde ser, póde ser... Não imagine V. Ex.a que faltam por cá doenças. O ar é bom. Não digo que não! Arsinho são, agoasinha leve. Mas ás vezes, se V. Ex.a me dá licença, vae por ahi muita maleita.

— Mas não ha medico, não ha botica?.